Copa do Mundo é sinônimo de festejo. É equânime a esta
palavra. Em todo festa que se preze, faz-se a mesa, realiza-se uma organização
baseada em toda a temática, prepara-se o buffet, a entrada, a saída, o acesso,
o horário, dentre tantas e tantas outras coisas para que a festa possa ser
feita de modo a atender toda a demanda e, também, toda a expectativa.
Salientando o fato de o Brasil ter tido uma candidatura
única para a realização da copa de 2014, faço minhas as palavras de Juca
Kfouri:
“o que é uma Copa do Mundo? Uma Copa do Mundo é um grande
anúncio de um país. Um anúncio que leva um mês. Qual o risco que você corre?
Fazer um mau anúncio... então tratemos de fazer um bom anúncio.”
O anúncio da Copa do Mundo no Brasil ainda não tem
substância, não possui um aspecto positivo o qual possa viabilizar a crença de
que a democracia brasileira usufrui de uma qualidade inefável, uma vez que
estamos falando de 12 novos estádios os quais possuem (sim, possuem) um caráter
de aparelhamento estatal quando pensados os recursos destinados para a
construção e consolidação destes estádios. Essa não é uma denúncia fria, é
invariavelmente um axioma.
O futebol no Brasil é o esporte mais popularizado e isso não
é por intermédio de uma cultura futebolística intrínseca a nossa população, ao
nosso povo: é uma questão antes econômica. Junta-se um grupo, elabora-se as
traves e, caso não haja bola, inventamos um jeito, do nosso jeito. E por vezes enrolamos meias,
jornais velhos, entre tantas outras possibilidades de construção de uma esfera
que sirva para ser chutada. E a diversão acontece.
É com esse mesmo jeito
que fabricamos nossas bolas de meia que estamos levando a direção desta festa que será a Copa do Mundo. Estádios
que, de forma absolutamente clara, se transformarão em mastodontes brancos, em
baleias azul-brancas. E as cidades brasileiras que, parafraseando Veríssimo em
Incidente em Antares, serão transformadas após a Copa em “arraiais de miséria e
esperança”. A construção do Brasil explica o sucateamento que podemos esperar
para a Copa: para onde vocês acham que vão os moradores de rua, os usuários de
crack, as manifestações de ordem social, no período da Copa?
Gostaria de salientar algo neste texto, que talvez não seja
nada de novo, mas algo que mostra a ebriedade brasileira em relação à Copa e,
posteriormente à Olimpíada: o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a
Fome (MDS) elaborou uma política de criação de equipamentos públicos cujo alvo
seria os moradores de rua. Esses equipamentos são denominados Serviço
Especializado para Pessoas em Situação de Rua e prezam, ao menos no papel, a
construção de vínculos interpessoais ou familiares que oportunizem a construção
de novos projetos de vida. Agora a denúncia: o que ocorreu e está ocorrendo, no
entanto, é uma “familiarização higienista” que perpetua um esvaziamento do
centro. Ora, mas por quê raios afastá-los do centro das cidades? Ou melhor,
para quê?
Pois bem, o que acontece é o seguinte: uma equipe de profissionais,
contando com psicólogos e assistentes sociais, além de técnicos de formação
completa no ensino médio, realizam intervenções cujo alvo seja o retorno dos
moradores de rua para o bairro onde seus familiares residem. Ora, que não
venham me dizer que suas intenções são as melhores: o que acontece tem uma
justificativa muito clara, e essa justificativa chama-se Copa do Mundo,
chama-se festa.
Nosso jeito tem um
preço, e um preço muito caro para ser pago.
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