No caminho incerto: Copa do Mundo e uma singela denúncia ao MDS

4 de outubro de 2012




Copa do Mundo é sinônimo de festejo. É equânime a esta palavra. Em todo festa que se preze, faz-se a mesa, realiza-se uma organização baseada em toda a temática, prepara-se o buffet, a entrada, a saída, o acesso, o horário, dentre tantas e tantas outras coisas para que a festa possa ser feita de modo a atender toda a demanda e, também, toda a expectativa.
Salientando o fato de o Brasil ter tido uma candidatura única para a realização da copa de 2014, faço minhas as palavras de Juca Kfouri:

“o que é uma Copa do Mundo? Uma Copa do Mundo é um grande anúncio de um país. Um anúncio que leva um mês. Qual o risco que você corre? Fazer um mau anúncio... então tratemos de fazer um bom anúncio.”

O anúncio da Copa do Mundo no Brasil ainda não tem substância, não possui um aspecto positivo o qual possa viabilizar a crença de que a democracia brasileira usufrui de uma qualidade inefável, uma vez que estamos falando de 12 novos estádios os quais possuem (sim, possuem) um caráter de aparelhamento estatal quando pensados os recursos destinados para a construção e consolidação destes estádios. Essa não é uma denúncia fria, é invariavelmente um axioma.

O futebol no Brasil é o esporte mais popularizado e isso não é por intermédio de uma cultura futebolística intrínseca a nossa população, ao nosso povo: é uma questão antes econômica. Junta-se um grupo, elabora-se as traves e, caso não haja bola, inventamos um jeito, do nosso jeito. E por vezes enrolamos meias, jornais velhos, entre tantas outras possibilidades de construção de uma esfera que sirva para ser chutada. E a diversão acontece.

É com esse mesmo jeito que fabricamos nossas bolas de meia que estamos levando a direção desta festa que será a Copa do Mundo. Estádios que, de forma absolutamente clara, se transformarão em mastodontes brancos, em baleias azul-brancas. E as cidades brasileiras que, parafraseando Veríssimo em Incidente em Antares, serão transformadas após a Copa em “arraiais de miséria e esperança”. A construção do Brasil explica o sucateamento que podemos esperar para a Copa: para onde vocês acham que vão os moradores de rua, os usuários de crack, as manifestações de ordem social, no período da Copa?

Gostaria de salientar algo neste texto, que talvez não seja nada de novo, mas algo que mostra a ebriedade brasileira em relação à Copa e, posteriormente à Olimpíada: o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome (MDS) elaborou uma política de criação de equipamentos públicos cujo alvo seria os moradores de rua. Esses equipamentos são denominados Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua e prezam, ao menos no papel, a construção de vínculos interpessoais ou familiares que oportunizem a construção de novos projetos de vida. Agora a denúncia: o que ocorreu e está ocorrendo, no entanto, é uma “familiarização higienista” que perpetua um esvaziamento do centro. Ora, mas por quê raios afastá-los do centro das cidades? Ou melhor, para quê?

Pois bem, o que acontece é o seguinte: uma equipe de profissionais, contando com psicólogos e assistentes sociais, além de técnicos de formação completa no ensino médio, realizam intervenções cujo alvo seja o retorno dos moradores de rua para o bairro onde seus familiares residem. Ora, que não venham me dizer que suas intenções são as melhores: o que acontece tem uma justificativa muito clara, e essa justificativa chama-se Copa do Mundo, chama-se festa.

Nosso jeito tem um preço, e um preço muito caro para ser pago.

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